quinta-feira, 21 de abril de 2011

Natura Spiritus

I

Ouvia os gritos abafados da atmosfera a fazer pressão nos meus ouvidos. A minha respiração estava falecendo a cada passo que subia. O ar faltava. O coração acelerava e desacelerava como o demente motor do pensamento.

O suor escorria pela minha testa como um ribeiro a escoar pelos campos, lavando e embebedando os poros da cara.

Estava cego com tanta pulcritude que contemplava. A divinal mãe natureza seduzia-me atrevidamente.

As rochas esmagavam os meus olhos, a vegetação agreste aguilhoava o meu corpo e as narinas inalavam a terra.

Ascendi ao extasie!

II

Avistei. Estava adjacente. Consegui alcançar o alto da fortaleza!

Cada passo que dava, detectava fragmentos cerâmicos antigos. Mais desgastadas que as lendas contadas pelo povo.

Cada fragmento era como fosse uma parte de mim. Um puzzle que faltava completar o meu contentamento.

Tornei criança naquelas horas.

Tocava. Sentia. Sujava as minhas mãos.

Mas também observava, seleccionava e interpretava conforme as regras e as teorias dos “loucos” investigadores.

E o tempo passava…

III

O vento levantou. As nuvens cobriam o sol quente de primavera. O frio sentiu-se.

Tremi de nostalgia.

- Não! Nãããoo!!! – gritava o inconsciente.

Era a hora de abandonar o ponto da placidez.

Tinha que voltar à realidade. Voltar ao mundo urbano e asqueroso.

Assim descia o monte estafado e entristecido. Os risos de cansaço eram o eco da despedida.

Mas não era um adeus para sempre!

Mas sim, um até logo!



"A natureza está constantemente a misturar-se com a arte."

(Ralph Waldo Emerson)

"A Natureza revela-se como força potentíssima, majestade inesgotável de energias que usa de grande variedade na sua ordem e na criação das coisas."

(Duarte Pacheco)